A Random Thought

Boletim Focus e Predições

Boletim Focus e Predições

O "Mercado errou 95% das previsões sobre economia e Bolsa desde 2021".
A manchete não deixa muita dúvida, mas também não explica muita coisa.
Errou por quanto? O quão perto precisa estar para acertar? As previsões carregam alguma informação?

O pecado do palpiteiro

A maioria das previsões que o UOL analisou sofre de um problema fundamental: elas não especificam um critério de acerto justo. São previsões pontuais, sem "faixas". Vamos comparar duas previsões diferentes - ambas erradas:

  1. "Ibovespa - A principal aposta do mercado, repetida por 40% das projeções, era a de que o índice ficaria entre 110 mil pontos e 120 mil pontos. Mas 2023 fechou em alta de 22,28%, aos 134.185 pontos."

  2. "Selic - A estimativa era de 11,75% ao final de 2023. Fechou em 12,25%."

A diferença fica óbvia. Uma das predições define um critério claro de acerto, uma faixa. A outra define um ponto, e qualquer coisa fora desse ponto vira um erro. O problema aparece quando nós tentamos diferenciar a previsão 2 acima da previsão abaixo.

  1. Selic - A estimativa era terminar o ano com taxa de 3,25% anuais. Mas no encerramento, a taxa estava a 9,25% ao ano.

As duas estimativas erraram, mas certamente a terceira está mais errada que a segunda. Bom, não. As duas estão igualmente erradas. Se acertar ou errar é algo categórico, não há diferença entre errar por pouco e errar por muito.

Na vida real, essas duas estimativas estão erradas em ordens diferentes. Se em 2023 você se preparasse para uma queda nos juros - de 13.75% para 11.75%, provavelmente não sofreria tanto quando no final do ano a SELIC fechasse em 12.25%. De uma queda prevista de 2pp, caíram 1.5pp, um erro de 0.5pp, ou 25% da queda.

Já em 2021, a alta esperada era de 1.25pp, de 2% para 3.25%. Quando o ano terminou, a alta foi de 7.25pp, quase 6x o aumento esperado. Se vocế comprou um apartamento com taxa baseada na SELIC em 2021, essa previsão complicou a sua vida.

Credibilidade e relevância precisam andar juntas

A análise do UOL levantou o principal problema, mas também um segundo. O "mercado" erra muito nas suas previsões, mas nós continuamos olhando para essas expectativas com a mesma credibilidade.

O principal ponto de olhar predições é poder ajustar nossa expectativa sobre o futuro com base nelas. Como consumidores dessa informação, só conseguimos fazer um bom juízo de valor se temos uma medida de credibilidade de quem produziu a predição: quem erra mais influencia menos. Para isso, precisamos entender quem está mais errado ou mais correto, e em quais conceitos.

Se tivermos predições mensuráveis, podemos caminhar nessa direção. Qual a taxa de erro dos participantes do mercado em predições com horizonte de um ano? Quais predições acertam mais? Em que situações as predições são piores?

Ainda tenho mais perguntas que respostas, mas precisamos caminhar nessa direção.

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